terça-feira, 12 de outubro de 2010

Gosto de Infância

Infância para mim era coisa séria, de viver intensamente sem precisar se arrepender na hora de ir dormir; de aproveitar cada instante e ainda pedir "só mais um pouquinho, mãe!" Infância de vários sabores, odores e que os anos não trazem mais.

No meu tempo, na minha eterna infância na roça:
Falava Senhora (or.) para os avôs;
Subíamos em árvores para brincar de espaço-nave;
Fugia por um minuto de casa e voltava quando dava fome;
Escondia-me debaixo da cama;
Corria descalço pela chuva e passava a noite tomando chá;
Fazia piquenique com bolacha recheada e suco;
Roubava carne na panela da casa de vó;
Tinha tênis com luzinha e cheiro de chiclete;
Brincava de boneca até 13 anos e adorava desenhos animados (que não era pica-pau);
Criança tinha piolho e dava um trabalhão;
Adorava Chiquititas e coreografias musicais;
Colecionava figurinhas e cartões telefônicos;
Tinha sempre um vestido ultra - mega preferido e usava roupas remendadas pela minha mãe até elas virarem farrapos, assim eu podia fazer bolinhos de lama.
Jabuticaba era o baú de tesouro encontrado depois de uma longa aventura pelo mato;
Brincava de casinha e cortava a barriga das bonecas para ver o que tinha dentro;
Maquiagem era coisa de gente grande e esmalte só depois dos sete anos;
No meu tempo de criança lamber a panela do bolo era a maior conquista;
Namorar era coisa nojenta;
Jogar bola era melhor que tudo;
Primos eram irmãos; tios davam presente;
Avô dava dinheiro; os amigos do meu pai davam bala;
Domingo era um dia inesquecível;
Brincar de escolinha era melhor que escola de verdade;
E deveria ter uma copa do mundo de elástico;
Pula-corda era brincadeira de família;
E esconde-esconde só tinha graça quando subia na cama, pulava janela, e demorava muito para aparecer;
Brincar com faca era perigoso, dor de garganta deva dengo e novela no rádio de pilha era emocionante.
As manhãs de garoa tinham chimango quente e as tardes tinham doce de manga verde;
Umbu era para serem pegos ainda "inchados" e comidos com sal;
Natal tinha presépio, terno de reis e frango assado no fogão a lenha;
Energia elétrica era um sonho e as noites tinham fantasmas;
Ir a cidade era ganhar na mega sena; comer pastel, comprar roupa nova; ver os carros e parar horas e horas vendo os brinquedos da vitrine.
Mas o melhor de ser criança era dormir no meio de meus pais numa cama apertada, aquecida e protegida dos trovões e dos relâmpagos das noites chuvosas.

Ah!! Como foi bommm!!!

E as lágrimas que molham essas teclas agora não são de tristeza, mas por saber que eu tive tudo isso e muitas crianças jamais desfrutarão dessa tão doce, inocente e mágica infância.

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